“A Casa do Medo – Incidente em Ghostland” trata o espectador como uma boneca e brinca com seu psicológico

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Algo que adoro reforçar em meus textos de terror é como ele tem suas fases e seus subgêneros. Temos obras com monstros, fantasmas, demônios, serial killers, mas todos se tornam filmes significados quando exploram o psicológico. Não basta um monstro ou um fantasma se a obra não mexer com a mente do espectador por trás de uma trama principal.

Terror não é apenas o medo rápido, mas sim, constante e perturbador. A Casa do Medo – Incidente em Ghostland, por mais que não tenha monstros ou fantasmas, trabalha com o mundano, com situações que podem acontecer comigo, com você ou com alguém próximo. E isso é tão perturbador quanto um demônio.

Com produção francesa e canadense, o novo filme do francês Pascal Laugier é poderoso em criar situações desconfortáveis. Suas cenas fortes de violência deixam um incômodo durante o caminhar da trama, ainda mais quando o mesmo conta uma história com duas meninas jovens.

Por ser um terror humano, com pessoas mentalmente perturbadas sendo os monstros da história, ele graceja em trabalhar o bloqueio psicológico, algo que os espectadores buscam ao assistir às cenas. Justamente por isso, o próprio cineasta brinca com este segmento na trama, dando essa realidade à personagem de Emilia Jones, que se esconde da realidade aterrorizante para viver uma vida perfeita.

Do mesmo modo que o roteiro trata de colocar as meninas como brinquedos de dois assassinos, Laugier provoca em chocar com o abuso e o feminicídio, enquanto também brinca com a mente do espectador em tratar tudo como mera loucura das personagens. A resolução, no entanto, reforça a ideia de que não podemos nos cegar para situações sérias e que devemos enfrentar a realidade, não importa o quão dura ela seja.

Vivemos em uma sociedade onde essa fuga da realidade é constante. Não queremos ver o sofrimento do próximo porque nossa bolha é confortável. Por mais que este não seja o tema central, Laugier passa uma mensagem forte sobre isto. Mas uma ainda mais forte para a violência doentia e o abuso.

Usar bonecas como metáfora é algo doloroso e forte. Jovens meninas sendo tratadas como objetos e simples brinquedos de dois homens – mesmo que doentes – reforça ainda mais nossa realidade violenta e abusiva. Apesar de explorar elementos clássicos do gênero, como o próprio visual dos assassinos e a ambientação – uma casa velha e abandonada no meio do vazio – o filme discute os assuntos de formas interessantes. Até pela forma que ele apresenta tudo.

As personagens conseguem ter um tratamento bem trabalhado no roteiro, com suas realidades, sonhos e ideologias apresentadas logo no primeiro diálogo. E com uma inicial citação ao escritor H.P. Lovecraft, o longa explora fundamentos das histórias do americano na trama – inclusive com uma participação surpresa do mesmo.

No entanto, o terror clássico de Lovecraft não recebe o cuidado que só ele sabe fazer, dando margem para o terror mais sujo e bruto de Laugier. Não há decapitações ou desmembramentos, mas há uma violência física que mexe até com o estômago do mais forte do cinema.

Contudo, o roteiro ganha um rumo um tanto aventureiro que perde a essência tenebrosa presente desde o início, eliminando um pouco do peso que o segundo ato explora mais. Inclusive, neste ato, Laugier exige muito das duas atrizes mirins com as cenas e tanto Emilia quanto Taylor Hickson trabalham de forma madura e convencem com suas personagens nas situações no longa. Apesar de ser a primeira vez que trabalham juntas, conseguiram construir muito bem a relação de amor e ódio.

Por mais que a personagem de Emilia seja o ponto de vista principal do filme, Taylor consegue demonstrar um domínio significativo e se torna tão importante quanto. Entretanto, como já citado, no terceiro ato, as duas personagens retornam à essência do início, sendo uma “superior” a outra, sem qualquer transformação.

No fim, A Casa do Medo – Incidente em Ghostland se mostrou uma surpresa agradável ao gênero. O filme fecha sua história de forma honesta e mesmo com um terceiro ato um tanto problemático, não há uma tentativa de ser algo a mais do que é. Há uma exploração interessante da mente e da loucura humana, com violência brutal devidamente bem filmada e de forma perturbadora ao espectador, sem esquecer de refletir a realidade atual da nossa sociedade.

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