Adaptar uma obra literária para o cinema nunca é uma tarefa fácil, principalmente quando falamos de uma história como Adoráveis Mulheres. O livro (muitas vezes traduzido como “Mulherzinhas”) escrito por Louisa May Alcott e publicado em 1868 é um clássico da literatura mundial e já recebeu dezenas de adaptações entre filmes e seriados, mas nenhuma se compara à de Greta Gerwig.

Greta consagrou seu nome como diretora com o longa Lady Bird que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2018, e seu trabalho com Adoráveis Mulheres certamente é merecedor de, pelo menos, mais uma indicação, ainda que tenha sido ignorado pelo Globo de Ouro. A jovem diretora conseguiu, sem sacrificar o conteúdo original e clássico, dar a sua cara à história das quatro irmãs. Apesar de todo o discurso ser extremamente atual, trazendo personagens femininas muito à frente de seu tempo, em momento algum o filme te deixa esquecer de que se trata de uma história do século XIX.

Os pontos positivos do longa não param na sua direção. As atuações são um belo complemento aos outros excelentes aspectos do filme, a começar pela brilhante interpretação de Saoirse Ronan (também indicada ao Oscar por Lady Bird) como a moderna Jo.

Jo, a protagonista da trama, é uma jovem escritora com ideais feministas – muito antes do movimento tomar corpo, tentando sucesso na carreira predominantemente masculina (assim como todas as outras carreiras da época) e tentando também equilibrar sua ânsia por liberdade com as expectativas da sociedade e de sua família.

Jo é uma das quatro irmãs March e cada uma delas é retratada com suas peculiaridades e diferentes camadas. Meg é a irmã mais tradicional, interpretada por Emma Watson, Beth é a irmã mais frágil que acaba adoecendo durante a trama e é interpretada por Eliza Scanlen. Por fim, Amy é a irmã com participação mais relevante depois de Jo, também de personalidade muito forte, interpretada por Florence Pugh que tem se destacado em seus últimos trabalhos – e esse não foi diferente.

Outra atuação que vale a menção é de Timothée Chalamet (indicado ao Oscar por Me Chame Pelo seu Nome) que emociona no papel de Laurie, o jovem que primeiro se apaixona por Jo e depois de ser rejeitado por ela, acaba se apaixonando e se casando com Amy. Chalamet rouba a cena muitas vezes e tem a chance de demonstrar seu talento principalmente com os pulos temporais do longa, que exigem uma grande variação de emoções do rapaz.
As veteranas Meryl Streep como Tia March e Laura Dern como mãe das quatro mulheres dispensam comentários, entregando atuações impecáveis, como de costume.

Como qualquer outra adaptação, as expectativas para Adoráveis Mulheres estavam altas, principalmente se tratando do trabalho de uma diretora em ascensão como Gerwig, mas todas as expectativas foram superadas. O filme traz leveza e sensibilidade para as situações corriqueiras da vida da família March, mas de forma dinâmica com alternâncias entre passado e presente para mostrar as consequências das diferentes decisões tomadas pelas irmãs e é esse dinamismo e as escolhas impecáveis de Gerwig que tornam a experiência de assistir a esse filme tão especial.

Adoráveis Mulheres é um filme de época que fala diretamente com a geração atual, evidenciando a atemporalidade da obra de Louisa May Alcott.

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