Como esperado, as grandes sequências de ação fazem “Velozes e Furiosos 8” valer a pena

Provavelmente, você já ouviu ou disse a frase: “aquele filme é feito para você desligar o cérebro e se divertir”. Na verdade, esse termo sempre me incomodou porque eu gosto de acreditar que todo filme consegue passar uma mensagem que a gente possa refletir e utilizar no mundo real. Entretanto, ao assistir “Velozes e Furiosos 8”, finalmente eu entendi porque o termo é tão utilizado.

Vale ressaltar que usar uma frase como esta não implica em uma avaliação negativa, até pelo fato de eu ter me divertido bastante com os absurdos da trama. Acontece que quanto mais você pensa e tenta estabelecer alguma lógica sobre os eventos que ocorrem, pior o filme fica. Sendo assim, pelo bem do seu entretenimento é melhor relaxar e se deixar levar, pois nesse universo a única regra é a de que “não há regras” para tudo o que pode acontecer.

De rebeldes loucos por adrenalina a justiceiros “fora-da-lei”

Se você acabou de chegar ao planeta Terra e nunca ouviu falar sobre a franquia “Velozes e Furiosos”, aqui vai um brevíssimo resumo. O primeiro filme surgiu em 2001, com ênfase em carros tunados e rachas pelas ruas. Essa ideia se manteve até o terceiro filme, lançado em 2006. No entanto, em 2009 a franquia começou a rumar para um lado mais de thriller de ação, resultando praticamente em um filme policial.

Tendo dirigido do terceiro ao sexto filme da franquia, o diretor Justin Lin conseguiu trazer de volta todos os personagens principais dos filmes anteriores e estabeleceu algo que será essencialmente explorado neste oitavo filme: o conceito de família. Ou seja, ao longo desses 16 anos e 7 filmes, “Velozes e Furiosos” deixou de ser uma história sobre carros para se tornar uma equipe clandestina de anti-heróis que combatem o crime ao redor do mundo inteiro.

Na minha opinião, o ponto mais alto da franquia aconteceu em “Velozes e Furiosos 7”, desta vez dirigido pelo promissor talento do terror James Wan. Ele elevou as acrobacias e situações absurdas usando os carros e os personagens a um nível de adrenalina jamais visto, ficando bem claro que a franquia encontrou exatamente o seu lugar e propósito. O sucesso foi tão absoluto entre os fãs que o filme arrecadou mais de 1 bilhão e meio de dólares!

Sob nova direção e terrorismo cibernético

Agora dirigido pelo experiente F. Gary Gray (“Código de Conduta”), “Velozes e Furiosos 8” se beneficia por saber exatamente os atalhos para agradar a seus fãs. Unindo tudo o que eu já falei até aqui, o filme traz de volta todo o querido elenco dos filmes anteriores, adiciona nomes vencedores de Oscar pela primeira vez, investe em cenas de ação absurdas e usa uma traição na família como incidente incitante.

Assim como franquias de ação como “007” ou “Jason Bourne”, além do mais recente “A Vigilante do Amanhã” fizeram, o filme explora os riscos do ciberterrorismo, nosso vilão mais perigoso no mundo real atualmente. A ameaça desta vez é representada por Charlize Theron, uma hacker que quer ter o controle de armas nucleares podendo transformar qualquer cidade em uma verdadeira zona de guerra, de acordo com seus interesses.

Sua personagem mescla uma ameaça “real” com uma vilã muito caricata, que não chega a ser excêntrica como os clássicos vilões de 007 por muito pouco. O legal do roteiro é que todos os personagens (e olha que são muitos!), têm pelo menos um conflito para lidar durante o filme, seja de relacionamento, rivalidade ou a necessidade de provar seu valor. Isso ajuda a não parecer que eles estejam abandonados ou “perdidos” na história.

De volta às origens

Para evitar que o filme se distanciasse tanto da essência original – algo que vinha acontecendo nos últimos filmes – a direção de Gary Gray sabe exatamente como resgatar o ar de nostalgia logo de cara. Climatizando o ambiente com música, carros incríveis e mulheres deslumbrantes, o filme já abre com um racha trazendo de volta Dominic Toretto (Vin Diesel) às suas origens.

Passando sua lua-de-mel com Letty (Michelle Rodriguez) em Cuba, Dom é desafiado por um morador local a apostar seu precioso carro, bem como acontecia nos primeiros filmes da franquia. A sequência impressiona, se beneficiando da habilidade do diretor nas cenas de ação. Com um bom uso de câmera, variando os planos entre subjetivas e cortes frenéticos, o ritmo cresce cada vez mais, adicionando drama e adrenalina na medida certa.

Antes que a vilã entrasse em cena e obrigasse Toretto a trair sua família, logo no início o filme deixa bem claro o tom exagerado que irá permear durante todo o longa. Praticamente os protagonistas são representados como super-heróis, com força e habilidades absurdas, como se unissem o Superman ao MacGyver (!). As próprias locações onde os eventos de desenrolam são versões lúdicas dos lugares que conhecemos. Aqui não há espaço para a realidade, é um universo totalmente alternativo.

Carisma dos personagens e adrenalina extrema

Como já mencionei, o estelar elenco está completo de volta para mais uma aventura. Não vou citar todos, mas destacam-se Hobbs (The Rock), Deckard (Jason Statham) e Mr. Nobody (Kurt Russell). Novos personagens também chegam, como Little Nobody (Scott Eastwood) e Helen Mirren, além de muitos outros. Na apresentação de The Rock, há uma piada engraçada que remete ao filme “Moana”, que ele coestrelou. Inclusive, sua própria filha lembra a princesa da Disney.

Em muitos sentidos, “Velozes e Furiosos” se assemelha com “Triplo X”, como na falta de cuidado com o roteiro, por exemplo. Sempre há um motivo “x” para que o grupo volte a ação, e o próprio motivo é completamente indiferente, como se os roteiristas não dessem a mínima. Mas, a franquia “Velozes” tem uma vantagem colossal com a relação a outra citada: seu querido elenco. Fica óbvio que o filme não investe tanto no cuidado com a história, porque aposta muito mais no carisma dos personagens do que nos dramas sofridos por eles.

E, como filme de ação, isso funciona. Vale lembrar que a essência do cinema de ação, que ficou mais popular nos anos 80 e 90 é justamente o heroísmo, conquistar o público por ações e não palavras. As explosões, gritos, socos e trocas de ofensas de “Velozes e Furiosos 8” representam o ápice da testosterona no cinema atual. Até as mulheres – com o perdão da expressão – são mais “macho” que muito homem.

Erros e acertos do roteiro

O roteiro peca em não elaborar motivações mais cuidadosas aos personagens, inclusive chega ao ponto de dar grande importância a uma personagem do passado de um dos protagonistas, para depois descarta-la por pura conveniência de roteiro. Algo que eu não consigo relevar em filmes infelizmente também está presente: aquele momento em que o vilão deixa os heróis escaparem vivos a troco de nada. Além dos diálogos, aquele puro blá blá blá explicando ao expectador tudo o que está acontecendo, passo a passo.

Com exceção desses problemas, o roteiro é muito bem estruturado. Há um toque de humor característico da franquia, onde algumas piadas funcionam mais que outras, mas de forma geral ajudam a elevar o astral do filme (lembrando que seu objetivo é divertir o espectador). Mas, como imaginam, o destaque está mesmo nas grandes sequências de ação. Destaque para a fuga da prisão; uma operação que envolve controle remoto à distância de carros ou a sequência final, com clímax e resolução bastante claros e empolgantes.

Conclusão

Mesmo estreando na franquia, F. Gary Gray aproveita bem sua chance e entrega um filme de ação muito competente, embora um pouco abaixo do seu antecessor. Ele entrega um filme tecnicamente muito sólido, com um visual bem atraente e um bom ritmo que nem a longa duração (2h15m) consegue prejudicar a fluidez. Destaque para a chegada do editor indicado a 2 Oscars (por “Colateral” e “O Informante”) Paul Rubell.

Sendo assim, “Velozes e Furiosos 8” proporciona um entretenimento de qualidade dentro do esperado para os fãs da franquia. Na verdade, é bem simples de entender. Quando você quer rir você procura uma comédia; quando quer se emocionar, procura um drama; e quando quer ver carros voando, derrapando e explodindo em alta velocidade, procura “Velozes e Furiosos”. Simples, mas eficiente.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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