FALCÃO E SOLDADO INVERNAL MOSTRA QUE A AMÉRICA PRECISA DE UM NOVO HERÓI

O mundo não é mais o mesmo. O aviso foi dado por Nick Fury (Samuel L. Jackson) ao recém descongelado Steve Rogers (Chris Evans) e quase uma década depois a história se repete agora. Mas nada é tão simples, para mudar o sistema talvez seja necessário usar o medo ou a coragem.

Após o fim de “Vingadores: Ultimato”, Sam Wilson (Anthony Mackie) recebeu o escudo do envelhecido Steve Rogers, mas não se sentia à altura de continuar o legado Capitão América. A histórica peça de vibranium criada por Howard Stark foi doada a um museu e acabou confiscada pelo governo americano.

Desfeita a ação de Thanos (o blip), que reduziu metade da humanidade em “Vingadores: Guerra Infinita”, o mundo tenta se ajustar a fronteiras destruídas em diversos países e pessoas que ficaram desalojadas e desabrigadas, sem pátria após o blip. Assim, surge um grupo, autodenominado “Apátridas”, que se mobiliza pela internet organizando ações contra figuras poderosas na Europa. Quando o Tenente Torres (Danny Ramirez) tenta impedir um assalto à banco na Suíça, ele se depara com um ser superpoderoso. Essa é a deixa para Sam investigar o grupo junto com Bucky (Sebastian Stan), o “ex-soldado invernal” perdoado pelo governo americano que agora tenta acertar as contas com um passado de assassinatos ao mesmo tempo que sente um homem fora do seu tempo.

Neste mundo novo, somos apresentados novamente ao soro do supersoldado, que até então imaginávamos que tinha dado certo somente com Steve Rogers, dessa vez sob controle do grupo revolucionário dos sem pátria, liderados comandados pela jovem reacionária Karli Morgenthau (Erin Kellyman), uma ameaça capaz de bater de frente com dois integrantes dos Vingadores.

Mesmo operando para as forças especiais do governo americano, Sam se vê surpreendido ao ver o condecorado John Walker (Wyatt Russell) receber do seu país o título e o escudo de Capitão América. Um herói não se faz só com medalhas ou um supersoro e aquilo que sobrava em Rogers falta em Walker. Por mais que tenha a mesma origem militar, lhe falta carisma e humildade. Esse Capitão América reflete o que o país se tornou após a Guerra Fria.

O Marvel Studios acerta em transformar em série a jornada de Sam Wilson em assumir seu protagonismo numa América que tem dificuldade em ver o negro como protagonista ou herói. O Falcão nessa jornada entende a importância do gesto de Steve Rogers e por que ele era o cara certo para empunhar aquele escudo e tudo que ele representa. 

Num mergulho nas referências dos quadrinhos, somos apresentados a Isaiah Bradley (Carl Lumbly), um rabugento e traumatizado idoso negro morador de um subúrbio que serviu o exército americano depois da segunda guerra e junto com outros negros foi usado como cobaia em experiências para criar um novo soro. Ele seria o primeiro Capitão América negro e com ele Sam entende que o sistema racista nunca permitiria isso. É um personagem fundamental no amadurecimento do Falcão para se transformar no novo Capitão América.

Outra referência é ilha de Madripoor, um lugar repleto de ilegalidades e que é refúgio de criminosos e foragidos apresentados por velho conhecido da dupla, o Barão Zemo (Daniel Brühl). O antagonista de Guerra Civil e responsável pela morte do Rei T’Chaka ainda não é o vilão que os fãs esperam, mas tem bons momentos na série e tem papel fundamental na redenção de Bucky. 

A série do Disney+, mesmo já anunciada desde 2019, se mostra completamente conectada com o contexto do mundo atual principalmente depois do movimento Black Lives Matter e da morte de George Floyd. Ao contrário da primeira série do Marvel Studios essa se mostra pé no chão e segue com fidelidade e honestidade o que foi plantado pelos irmãos Russo em Capitão América 2.

Assim como em Wandavision, onde os fãs buscaram referências e pontas soltas em todos os episódios em relação ao futuro do MCU e no fim encontramos ligações com novo filme do Doutor Estranho e Capitã Marvel, em Falcão e Soldado Invernal se estabelece conexões interessantes tanto para o futuro quarto filme solo do Capitão América quanto para a possibilidade da formação dos Vingadores Sombrios com inserção da personagem Valentina Allegra de Fontaine, a Madame Hydra nos quadrinhos que tem uma atuação semelhante a de Nick Fury e surge recrutando o Agente Americano para trabalhar pra ela. Outra ponta solta é o final da Agente Carter que pode ter ligação com a vindoura série da Invasão Secreta que mostrará uma infiltração Skrull na Terra.

A fase 4 da Marvel que começou na TV acerta em dar protagonismo aos coadjuvantes dos Vingadores e expandir o universo sem medo da reação do público e sem ter tramas procedurais e com narrativa bem objetiva, não perdendo tempo em explicar demais ou apresentar demais personagens preocupados com uma audiência nova.

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