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Quando o diretor sueco David F. Sandberg fez um curta chamado “Lights Out” em 2013, talvez nem ele imaginasse o nível de repercussão imediata que seu vídeo alcançaria. O curta – que dura aproximadamente 3 minutos – realmente tem suas qualidades. Pode não ser tão assustador para aqueles mais fortes e que não se impressionam com certa facilidade, mas é de uma destreza técnica impressionante, demonstrando com eficiência duas coisas: uma boa idéia e uma ótima execução. Apesar de o diretor ter vários documentários e outros curtas na carreira, podemos dizer que o sucesso de “Lights Out” foi o que de fato o credenciou a dirigir um longa-metragem em Hollywood, e este foi exatamente o passo seguinte de Sandberg.

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Intitulado por aqui de “Quando as Luzes se Apagam”, o filme conta a história de um garotinho chamado Martin (Gabriel Bateman), que percebe que sua mãe Sophie (Maria Bello) tem agido de forma muito estranha ultimamente, até descobrir que há um espírito maligno a atormentando, impedindo que ela saia de casa e a obrigando a viver no escuro. Então ele vai pedir ajuda a Rebecca (Teresa Palmer), sua irmã que saiu de casa após alguns desentendimentos com a mãe e a perda do pai. Sendo assim, a família novamente reunida vai ter que acabar de uma vez com esse mal, que não resiste a luz e habita apenas nas trevas.

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Podemos dizer que como a figura do preto e das sombras está sempre presente, seja no figurino de Rebecca como na casa de Sophie e Martin, e partindo do princípio de que todo filme pode passar uma mensagem além do que é mostrado na superfície, que “Quando as Luzes se Apagam” é um filme que fala sobre o luto e a depressão que ele pode causar com a perda de um ente querido. Também por ser um tema soturno, é bastante recorrente em filmes de terror/suspense – e coincidentemente, muito parecido com outro filme que teremos em breve por aqui, chamado “O Sono da Morte”.

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Sandberg, entretanto, não parece estar muito preocupado com o “conteúdo” de seu filme, e sim com a “forma”, dando a entender que o filme vai mirar no público médio, aquele espectador casual de cinema, que vai assistir com amigos e namorada, por exemplo, e que não tem necessariamente um senso crítico mais afiado e exigente. Um ponto bastante positivo para os fãs do curta que inspirou o filme, é que seu diretor se manteve fiel ao “material original”. Já de início, vemos o recurso sendo usado com bastante eficiência e ele não será abandonado, ainda o veremos em um ou dois bons momentos mais à frente. Como o filme é mais curto que a maioria hoje dia (tem 1 hora e 21 minutos de duração), não explica quase nada no início e vai direto ao ponto para estabelecer as relações entre os personagens. Ah, é claro que há muitos jumpscares bem ao estilo “Anabelle” (não é a toa que o diretor já está filmando a sequência do filme da boneca possuída).

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O fato de não explicar muito é sempre muito bom, pois aguça a curiosidade do espectador, mas é melhor especialmente quando você sabe exatamente onde quer chegar. Não parece o caso aqui. Rebecca tem um namorado que diz que estão juntos há oito meses, e embora ela demonstre ser alguém que evita intimidade, o fato de ele querer deixar seus pertences na casa de Rebecca, indica que ele já foi lá várias vezes. Entretanto, ele se surpreende com a chegada de Martin, alegando que ela nunca disse que tinha um irmão. Até aí tudo bem, não fosse o fato de ter uma foto enorme de Rebecca abraçada com seu irmão bem em cima da cômoda. É possível que ele tenha olhado para ela umas quinze vezes e não tenha visto? É claro, mas abusa muito da suspensão da descrença do espectador. Aliás, as fotos são um problema no filme e demonstram a fragilidade do roteiro, pois em um momento importantíssimo da elucidação do mistério mais à frente, há uma foto comprometedora de uma das personagens encontrada de forma absurda e desleixada, junto com algumas gravações de fita k7 (sim, de novo isso, haja falta de criatividade em Hollywood).

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Tudo bem que o espectador precisa relevar muita coisa em filmes de ficção, mas o filme é o responsável principal por fazer isso e “Quando as Luzes se Apagam” abusa demais da boa vontade da sua plateia, até chegar ao ponto em que o espectador para de se importar com os personagens, porque suas ações são completamente estúpidas, do nível de “vamos passar a noite na casa mal-assombrada e amanhã cedo a gente resolve isso”, “vamos descer nesse porão aqui bem escuro para fazer um inventário” ou “vamos pegar essa lanterna movida a corda e não a pilha, porque ela não vai me deixar na mão”. Também paramos de temer o monstro, porque mesmo que ele tenha a chance clara de te matar, ele prefere riscar seu chão, brincar com você ou escrever na sua parede…

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Portanto, sem uma boa história como subsídio, o espectador fica a mercê dos vários sustos do filme, que são bem impactantes, diga-se, mas que vão se tornando cada vez mais previsíveis, muito por conta da trilha sonora, que apesar de ambientar bem o clima de suspense, é muito mal decupada, desperdiçando a oportunidade de surpreender o espectador, fazendo aquela pessoa mais atenta identificar os padrões e saber quando está chegando o próximo susto.

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Apesar de ter de trabalhar com um elenco muito fraco dramaticamente (com exceção de Maria Bello), e com um texto muito ruim, a direção de Sandberg tem sacadas estéticas muito boas, como o próprio ambiente em que a maioria do filme se passa (a casa realmente é sinistra), a idéia da luz negra dá um efeito bem interessante, assim como o efeito do tiro de revólver. Mas há muita coisa mal explicada, um festival de clichês que poderia ser evitado usando um pouquinho mais de criatividade e vontade de surpreender o espectador. E detalhe, embora o final possa parecer corajoso, na verdade não é, é claro que não vou dizer o porquê aqui (embora fique diabolicamente sinistro um desfecho assim, se pensarmos no tema do luto e da depressão abordados no início). Portanto, “Quando as Luzes se Apagam” é apenas mais um filme de jumpscares, que mira no espectador mais casual de filme de terror ou em busca de alguns sustos, mas que não oferece nada além do óbvio, ou seja, entretenimento raso e passageiro.

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