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‘Justiça não é crime’

O jovem diretor David Mackenzie surpreende neste faroeste moderno que conta a história de um pai divorciado (Chris Pine) que juntamente do seu irmão mais velho recém-saído da prisão (Ben Foster) passam a assaltar bancos em pequenas cidades do Texas para conseguir quitar as dívidas do seu rancho e não perder as terras de sua família. Mackenzie já havia moderadamente se destacado com um modesto drama britânico chamado ‘Encarcerado’, estrelado por Jack O’Connell e Ben Mendelsohn, mas é aqui em ‘A Qualquer Custo’ que tem a oportunidade de trabalhar com grandes nomes em um projeto muito mais ambicioso no qual pode mostrar toda sua capacidade como diretor e contador de histórias.

Mackenzie dedicou ‘A Qualquer Custo’ a seu pai e sua mãe, já que ambos morreram durante as gravações. Mesmo com sua história se passando nos dias de hoje, o filme retrata o Texas – pós-crise econômica de 2008 – como uma terra dominada por interesses de instituições financeiras, onde as pessoas estão abandonadas e precisam agir por conta própria pela sua sobrevivência. Há até uma certa metáfora que trata a exploração dos bancos para com os pobres da mesma forma como um dia os brancos tomaram as terras dos índios. E é em cima desses temas que a história é brilhantemente conduzida, com todo esse ressentimento e sede por justiça represados e prestes a explodir. Há uma frase bem impactante que resume a motivação do protagonista, algo como ‘a pobreza é como uma doença, que passa de pai para filho’. Para ele, era hora de deixar de ser vítima e colocar um ponto final nessa história.

O roteiro do filme é escrito por Taylor Sheridan – que estreou em 2015 com o bom ‘Sicario: Terra de Ninguém’. ‘A Qualquer Custo’ comprova um visível amadurecimento de Sheridan em termos de construção de personagem com relação a seu filme anterior. A maneira como o filme constrói e expande a personalidade dos irmãos Tanner (Foster, brigão) e Toby (Pine, sensível), além do guarda Marcus Hamilton (Jeff Bridges, incrivelmente hilário e sarcástico) é tão impressionante que torna o drama dos personagens extremamente ‘real’ para o espectador. Além disso, há grandes cenas muito bem escritas e dirigidas, com diálogos e situações repletos de tensão, mas ao mesmo tempo bem-humorados.

Caso alguém esteja se perguntando, o termo ‘come hell or high water’ (título original do filme) refere-se a ‘fazer o que for preciso, não importam as circunstâncias’. Esse termo também pode ser utilizado como cláusula contratual, determinando ao pagador que os pagamentos do acordo devem ser honrados independentemente de quaisquer dificuldades enfrentadas. Ambas as definições dialogam perfeitamente com o destino dos personagens no filme. Outra característica que chama muito a atenção é que todos os personagens são bem idiossincráticos e um tanto revoltados com suas vidas, o que acaba rendendo momentos engraçadíssimos como a cena da gorjeta, ou um papo sincero com uma velha garçonete.

‘A Qualquer Custo’ também se beneficia de uma narrativa bem fluída, tanto que nem seu ritmo consideravelmente lento o torna monótono. A partir do momento em que o filme estabelece tanto a dupla de foras-da-lei quanto a de guardas que estão atrás deles – Bridges tem um parceiro meio índio meio mexicano, inclusive rendendo vários insultos politicamente incorretos entre os amigos – a trama se torna bem objetiva, facilitando ao espectador acompanhar os fatos que se seguem sem se preocupar com subtramas ou complicações desnecessárias (de semelhante forma ao que acontece em outro grande faroeste, ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’). O tradicional jogo gato e rato. A trilha country composta por Nick Cave e Warren Ellis é um show a parte, ambientando perfeitamente a localização geográfica onde os eventos se desenrolam.

OPINIÃO FINAL: ‘A Qualquer Custo’ é um filme extremamente bem escrito e atuado, que referencia diretamente os grandes faroestes da história do cinema. Um drama familiar, uma história de justiça de um homem lutando contra o sistema opressor que vai ser lembrado por muito tempo como um dos melhores filmes contemporâneos do gênero. A direção de David Mackenzie é incrível, pela forma como enquadra os personagens, sua movimentação de câmera dando ao espectador os pontos cruciais da ação que irá ocorrer – a cena de abertura é espetacular e a maneira como David usa a câmera para contar a história agrega ainda mais significado ao roteiro.

Chris Pine e Ben Foster (que coestrelaram o drama ‘Horas Decisivas’) demonstram uma química perfeita, expressa por meio de uma relação de afeto extremamente complexa. Com seus diálogos ricos em significado e bastante engraçados, ‘A Qualquer Custo’ é um faroeste que respeita as motivações dos seus personagens por não se render a tiroteios gratuitos e resoluções clichês. Jeff Bridges entrega sua melhor atuação desde que recebeu o Oscar em 2010 e as quatro indicações ao Oscar que o filme recebeu foram inteiramente merecidas, especialmente a de melhor filme.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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