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Mesmo 50 anos longe dos cinemas brasileiros, o primeiro filme inglês do italiano Antonioni continua sendo atual, não atual em sua produção, mas sim nas discussões que gera. Conceitos de realidade, veracidade e ilusão são alguns dos pontos que ‘Blow-Up’ apresenta ao espectador. Apesar de uma Londres da década de 60, que levemente remete a conturbada Inglaterra de Anthony Burgess, a ambientação ainda consegue instigar o público com o mistério e as discussões.

Distante de um público atual, o relançamento do longa no Brasil pode fazer o filme voltar a causar as estranhas sensações e provocar as melhores discussões sobre o próprio ser, algo que o roteiro de Antonioni e de Guerra trabalha muito bem. Com um primeiro ato dedicado a apresentação de personagens e ambiente já causa estranheza no espectador que procura se identificar ao máximo com um personagem arrogante, mas misterioso e um tanto quanto romântico.

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O caminhar lento do roteiro é misturado com uma câmera também lenta de Antonioni, que nitidamente, procura ser cuidadoso na apresentação da história. É demorado o início da trama central e todo o mistério que o envolve, mas desde o começo de tudo é possível ser sugado por todo aquele ambiente e pelos personagens. Com mais lembranças a obra de Burgess e, consequentemente, a versão de Kubrick de ‘Laranja Mecânica’, as cores agressivas e duras, misturadas com todo erotismo e sensualidade, conseguem transmitir a violência londrina que Antonioni nitidamente queria.

Vencedor do Palma de Ouro e com duas indicações ao Oscar, ‘Blow-Up’ instiga o ser humano na história, por todo o mistério, questionamentos e sensualidade, além de conseguir gerar reflexões próprias sobre o ser e da veracidade daquilo que o espectador está vendo, principalmente, depois de um final questionável e todo voltado a reflexão.

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‘Blow-Up’, devido a um roteiro e um ritmo lento, com um perfil artístico, dificilmente consegue prender o público atual e mostra que é um filme preso em seu tempo, mas ainda assim, consegue trazer pontos atuais e apresentar técnicas de alta qualidade do cinema, principalmente no roteiro. Todo o seu final sem explicação é o típico final que o grande público procura distância, pois não conseguem retirar a essência da obra e nem os belos questionamentos que o mesmo proporciona, deixando o filme no cinema quando na verdade, devem ir além, e isso que faz um bom filme.

Não basta assistir a um filme com belo roteiro, direção e fotografia, e deixar tudo na sala de cinema, é sempre bom ter algo a mais, ter algo que é possível levar para fora. ‘Blow-Up’ traz tudo isso, um roteiro belissimamente bem escrito e uma direção que segura o roteiro na mão e o leva para uma dança sensual, mas ao mesmo tempo tensa. A falta de uma trilha marcante deixa o filme ainda mais incomodo e provocativo, causando as mais diversas emoções no espectador, o deixando instigado com todos os acontecimentos.

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Refletir sobre o que acabou de assistir e questionar sua própria lucidez e a do personagem, faz o final de ‘Blow-Up’ uma obra a parte, com uma cena um tanto perturbadora, devido à falta dessa lucidez que foi perdida logo nas primeiras cenas. Mesmo muito longe de conquistar um público atual, ‘Blow-Up’ é uma obra artística, e realizada pelo mais belo e cuidadoso artista.

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