Mesmo com alguns clichês, “Despedida em Grande Estilo” consegue fazer rir

Vira e mexe filmes sobre idosos deixando de lado o tédio das suas vidas comuns e mergulhando de cabeça em aventuras e sensações que achavam que nunca mais fossem experimentar são recorrentes em Hollywood. De memória, consigo lembrar de “Alguém Tem que Ceder”, que retrata a descoberta do amor na terceira idade ou “RED: Aposentados e Perigosos”, onde um ex-agente reúne sua velha equipe para combater uma ameaça que surge.

Vale lembrar também o recente “Última Viagem a Vegas”, que reunia quatro amigos em uma despedida de solteiro na cidade dos Cassinos. Isso sem mencionar os que não fazem muito sucesso perante crítica e público. Filmes assim surgem com frequência porque o deslocamento dos personagens em ambientes ou situações que eles não dominam, são um prato cheio para roteiristas criarem histórias engraçadas e inusitadas.

No entanto, “Despedida em Grande Estilo” não é tão original assim. O filme é um remake de uma comédia de mesmo nome lançada em 1979, dirigida por Martin Brest (de “Um Tira da Pesada”). No filme, Joe (Michael Caine), Willie (Morgan Freeman) e Albert (Alan Arkin) são três amigos aposentados que se revoltam ao descobrir que a empresa pela qual recebiam pensão vai se mudar para o Vietnã e decidem roubar um banco para recuperar seu dinheiro, que será suspenso.

Zach Braff dirigindo Morgan Freeman e Michael Caine

O filme é dirigido por Zach Braff (da dramédia “Hora de Voltar”), baseado no roteiro escrito por Theodore Melfi – indicado recentemente a dois Oscars pela produção e roteiro de “Estrelas Além do Tempo”. Quem conhece Zach, sabe que mesmo frequentemente envolvido com comédias, seus filmes têm um tipo de humor bem melancólico, combinado com uma certa dose dramática. Aqui em “Despedida em Grande Estilo”, o diretor evita pesar muito a mão, conduzindo o clima do filme para um tom mais farsesco (exagerado).

Sendo assim, já na primeira cena do assalto vemos que a proposta do filme é fazer sim uma crítica social, porém, de maneira bem caricata e irreverente. Basicamente, o filme critica o sistema financeiro e corporativo, que não dá a mínima para o povo (especialmente os idosos), agindo sempre de acordo com seus interesses. Recentemente, outro filme abordou um tema semelhante, só que de maneira muito mais séria: o drama indicado ao Oscar “A Qualquer Custo”.

A notificação vermelha marca o perigo: aviso de despejo

Em vários momentos, a engraçada trama de vingança que o filme faz, me lembrou a boa comédia “As Loucuras de Dick e Jane”, com Jim Carrey. Ou seja, pobres empregados, vítimas do sistema sendo exploradas pelas grandes corporações. Na trama, os três amigos têm personalidades distintas, porém são unidos pelos mesmos propósitos: a revolta por terem sido descartados após décadas de trabalho duro e, é claro, a necessidade da pensão.

Joe (Caine) é o típico vovô carinhoso. Sua filha e neta passaram a morar na casa dele, entretanto, já está recebendo avisos de despejo do banco, por ter caído em uma “pegadinha” com a taxa de juros. Já Willie (Morgan) precisa de um rim e seu plano de saúde não cobre os custos. Para piorar, vive longe da família e não pode vê-los. Por fim, Al (Arkin) é um professor de música casual e mal-humorado, que não estudou e nem se casou. Seu personagem lembra um pouco seu papel em “Pequena Miss Sunshine”.

[ O grande elenco está muito bem atuando em grupo

Mas, você pode estar perguntando: o filme é realmente engraçado? Eu consegui me divertir muito, especialmente nos dois primeiros atos. É claro que o humor do filme conta com algumas piadas bobas e, como eu mencionei anteriormente, explora situações de maneira absurda, mas isso não me incomodou por se tratar justamente do tom que a direção escolheu para o filme.

Não foi uma premissa séria que acabou se rendendo a esses momentos irreverentes, o que poderia soar como inconsistência. Portanto, em meio a muitas confusões desses velhinhos cheios de energia que querem se aposentar com dignidade, há momentos realmente engraçados, como o hilário primeiro assalto ao mercadinho.

A sequência conta com um timing preciso, que remete aos clássicos desenhos animados, aliando tiradas inteligentes com humor físico. A cena cresce ainda mais com a inusitada trilha sonora “Feel Right” – um black que remete aos anos 70, tornando o momento mais engraçado, da mesma forma que “Superbad” conseguiu fazer. Sem falar na melhor piada com o filme “E.T.” que eu vi nos últimos anos.

Nunca imaginei ver Morgan Freeman de E.T. no cinema

Completam o elenco Matt Dillon, Ann-Margret, John Ortiz e a garotinha Joey King, todos bem nos seus papéis. E como é bom ver Kenan Thompson (de “Kenan e Kell”) e Christopher Lloyd de volta, em papéis de apoio engraçadíssimos. O filme aproveita para fazer uma homenagem ao grupo “Rat Pack”, famoso nos anos 50 e 60 que contava com Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Dean Martin – participantes do também filme de roubo “Onze Homens e um Segredo”, na versão original.

Além da crítica social e da trama de vingança, “Despedida em Grande Estilo” questiona porque demoramos tanto para curtir nossas vidas. Veja bem, não estou dizendo chegar a roubar ou a usar drogas, mas me refiro ao simples fato de não esperar tanto para aproveitar o curto tempo que temos aqui na Terra.

Como ponto negativo, o terceiro ato se perde um pouco ao tentar levar o espectador a acreditar em um “falso final”. O clímax é bem espalhafatoso e ali sim a mão de Zach Braff pesa um pouco na tentativa de adicionar uma maior carga emocional ao desfecho da trama. As cenas que vinham sendo bem construídas, como o planejamento do roubo ou a festa beneficente no parquinho, dão lugar a um pequeno drama que soa bem pouco convincente.

Sendo assim, apesar do terço final abusar um pouco de algumas convenções de roteiro, “Despedida em Grande Estilo” consegue fazer rir aquele espectador que entender a sua proposta. Por mais que seu valor emocional não seja tão convincente, o fato de juntar três grandes astros (todos vencedores do Oscar) em momentos inusitados e engraçados, por si só já vale o ingresso.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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