OS 7 DE CHICAGO | EVENTOS REAIS E CONTROVERSOS INSPIRAM O EXCELENTE DRAMA DA NETFLIX

A Convenção Nacional Democrática aconteceu em Chicago, nos EUA, no ano de 1968 e entrou pra histórias não pelos seus avanços políticos, mas sim por ter sido a origem dos eventos que levaram ao famoso julgamento dos 7 de Chicago.

Inicialmente 8, os 7 de Chicago foram os 7 líderes de movimentos sociais de esquerda que foram escolhidos pelo Departamento de Justiça do então Presidente Nixon para servirem como exemplo para os outros protestantes e são denunciados por conspiração contra o governo e por cruzar limites estaduais para incitar violência, por conta dos atos violentos que aconteceram durante a Convenção Nacional Democrática.

O filme da Netflix dramatiza os eventos reais que ocorreram antes e durante o julgamento que durou 5 meses sob olhares atentos do público e foi palco de momentos difíceis de engolir.

Os 7 homens denunciados foram Tom Hayden (Eddie Redmayne), Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), Rennie Davis (Alex Sharp), David Dellinger (John Caroll Lynch), Lee Weiner (Noah Robbins) e John Froines (Danny Flaherty). Eles participavam de movimentos diversos, mas todos estavam protestando em Chicago com o mesmo objetivo: o fim da Guerra do Vietnã. Entre eles, no entanto, foi denunciado também Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), um dos cofundadores dos Panteras Negras.

Bobby Seale é o protagonista de uma das cenas de maior impacto no filme, isso porque Bobby nunca participou de qualquer planejamento para protestar em Chicago como os outros 7, ele visitou a cidade apenas para dar uma palestra na Convenção e voltou para casa logo depois, mas foi denunciado mesmo assim, e o filme deixa bem clara a questão racial de que ele só teria sido escolhido para ajudar na imagem violenta dos julgados. Desde o começo sem a presença de seu advogado, é bem claro como o racismo teve um enorme peso no modo como Bobby foi tratado, sobretudo pelo juiz Julius Hoffman (Frank Langella), que é absolutamente parcial e não demonstra qualquer simpatia, ou respeito, em relação aos acusados. Em determinado momento, após Bobby ter interrompido o julgamento diversas vezes exigindo o direito de poder representar a si mesmo, direito esse que lhe foi negado, o juiz ordena que Bobby seja amordaçado e mobilizado, numa cena emocionante e reflexiva. A pior parte é que, apesar de todas as licenças poéticas presentes no longa, essa foi uma situação real e que durou não alguns minutos, mas 3 dias de julgamento. Por fim, Bobby eventualmente conseguiu ser julgado separadamente dos 7.

A narrativa do filme escrito e dirigido por Aaron Sorkin é feita de forma dinâmica e diverte até nos momentos de maior tensão. Mesclando entre o julgamento, cenas dos acontecimentos do protesto e uma stand-up contado por Abbie Hoffman, vemos principalmente, e de forma unilateral, o ponto de vista dos protestantes que culpam a polícia por toda a violência de que se sucedeu. Todos os 10.000 protestantes que foram a Chicago para a Convenção pregavam a ideia de um protesto pacífico, mas ao chegarem lá foram recebidos por uma soma de mais de 20.000 homens entre policiais e membros do exército. Em cenas que fazem uso também de filmagens reais podemos ver a violência que se deu a partir desse encontro. O que fica claro, independente do lado que tenha começado, é que o crime de conspiração nunca foi cometido e todo o julgamento teve muito mais um viés político do que de aplicar a lei.

Os acontecimentos são do final dos anos 60 e tecnicamente já não temos mais uma guerra para lutar contra, mas o debate, tal como a polarização, continua sendo muito atual e o filme nos oferece uma oportunidade de reflexão.

Com um elenco de altíssima qualidade e personagens carismáticos, principalmente Abbie Hoffman, pelo qual Sacha Baron Cohen recebeu indicações, até o momento, de Melhor Ator Coadjuvante no Critics Choice Awards, SAG Awards e Globo de Ouro e Jerry Rubin, os amigos hippies que muitas vezes funcionam como alívio cômico.

“Os 7 de Chicago” ainda conta com atuações de Mark Rylance como William Kunstler, o advogado dos 7, Ben Shankman como Leonard Weinglass e Joseph Gordon-Levitt como o promotor de justiça Richard Schultz e Michael Keaton numa participação pequena, mas importante como o Ex-Procurador-Geral dos EUA, Ramsey Clark.

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