Quando qualquer cinéfilo que quer se aventurar em uma nova descoberta de produções de outros países não latinos ou anglófonos, tem que pensar da seguinte forma. Se um norte-americano quer conhecer a cultura e questões primordiais do cinema brasileiro, oque deve assistir? Glauber Rocha, claro, com o auxílio de boas leituras para entender a história social de nosso povo, pois até então, nosso cinema não tinha uma forma muito própria de se mostrar como estritamente nacional, embora o próprio diretor tenha tido influências do neo-realismo italiano para compôr sua obra. ‘Deus e o Diabo Na Terra do Sol’(1964) é um western a brasileira, mas tem toda nossa história embutida nele.

No caso do Japão não seria diferente, pois Akira Kurosawa é um gênio, mas de exportação.’ Ran’ é puro Shakespeare e ‘Os Sete Samurais’ um épico universal que inspirou até o filme ‘Sete Homens e um Destino’, pois os ocidentais viram traços culturais parecidos sobre exploração e violência. Então qual seria essencialmente o cinema nipônico?

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Yasujiro Ozu seria o mestre responsável por mostrar as marcas mais próprias do homem comum de seu país no pós-guerra. Depois de uma desolação tamanha com o fim do conflito e o terror das bombas nucleares, o Japão se reconstruiria para o século XX tornando-se competitivo ao capitalismo em ascensão, já que sua história foi sempre de resistência e isolamento das culturas do oeste.

Estamos habituados a figura do samurai, um guerreiro a serviço dos poderosos, não com o cidadão urbano da Tóquio moderna, e é isto que sua poética e contida cinematografia aborda. A essência da família, a posição da mulher em relação a um casamento de tradição patriarcal em uma realidade industrializada, onde ela mesma já está no mercado de trabalho.

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A submissão dos filhos em relação as decisões do pai, mesmo sendo nação profundamente capitalista, não perdeu suas marcas feudais da antiguidade, sendo assim não existe individualismo. Prova disto são os níveis de delinquência e suicídio dos jovens porque não corresponderam as expectativas do seu grupo.

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Todos esses fatores, o Pipoca de Pimenta encontrou para você cinéfilo interessado em quatro filmes sensacionais desse diretor ímpar do Japão.

‘Flor de Equinócio’(1958), um drama sobre a decisão de uma filha de um chefe de família em se casar com o homem que ama, ‘Meninos de Tóquio’(1932), uma ligeira comédia sobre garotos que formam um clã de resistência aos adultos, ‘Crepúsculo em Tóquio’(1957), a relação de duas filhas frustradas com seus casamentos que voltam a casa do pai e têm um grande choque do passado. Finalmente o mais belo e essencial deles, ‘A Rotina Tem seu Encanto’(1962), um belíssimo registro do cotidiano que dá grandeza aos valores da família, sem ser pedante, calcado em uma trilha valsada sem igual e uma cinematografia perfeita. Vale a pena conferir oque tem a dizer o velho mundo oriental.

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